|
Entretanto, a ampla divulgação sobre a possibilidade desta doença se espalhar pelo mundo
todo, inclusive entre humanos, já fez com que o consumo da carne de frango caísse drasticamente na Europa. O Brasil,
sendo o maior exportador mundial e ocupando quase 40% do mercado internacional, tem se ressentido com a queda deste
consumo. Realmente, há sempre a possibilidade do vírus da gripe aviária estagiar nos humanos ou em outros mamíferos, como o porco, e trocar gens com um vírus da gripe humana comum, tornando-se, assim, geneticamente apto a desencadear uma pandemia de gripe aviária através da transmissão inter-humanos do vírus modificado.
Porém, acreditamos ser este evento pouco provável, não só pelo pequeno número de casos de gripe aviária ocorrendo em humanos e mamíferos, como, também, devido ao controle que está sendo exercido pelas autoridades sanitárias e pela população, quanto ao procedimento de isolar os poucos pacientes contaminados em hospitais e as aves nos criadouros. Outras providências importantes são: o abate das aves doentes, o controle nos aeroportos, portos e rodovias quanto à entrada de produtos avícolas de origem suspeita e a proibição da importação de aves ornamentais, feita inclusive no Brasil. Uma outra estratégia que está sendo programada é a da identificação do vírus imediatamente após a sua chegada, para evitar que a doença se alastre. O primeiro surto do vírus H5N1, registrado em Hong-Kong em 1997, foi abortado, após a sua identificação, com o abate de todas 1,5 milhão de aves de criação do país. Existem, então, evidências de que, se houver mutação do vírus e a decorrente pandemia, esta poderá ser contida em seu nascedouro, desde que sejam tomadas as diligências necessárias.
Além disso, atualmente, caso ocorra uma pandemia de gripe humana, já existem os antibióticos e as vacinas,
que não existiam na época da "espanhola". Sabe-se que 2/3 dos óbitos das gripes devem-se às complicações bacterianas, às pneumonias, que podem ser combatidas
com antibióticos, principalmente se a doença for logo diagnosticada e tratada; sabe-se, ainda, que uma vacina
polivalente ou de vários sorotipos virais também pode ser aplicada na prevenção da gripe até que se obtenha a vacina específica, após
a identificação do novo vírus epidêmico. Hoje em dia, existem ainda os medicamentos antivirais, como o Tamiflu, fabricado
pelo laboratório Roche, e cujo lucro das vendas passou de 254 milhões para mais de 1 bilhão, em 2005, devido a todo
este alarde. O Tamiflu é quase um paliativo, aliviando principalmente os sintomas da gripe, mas, no caso deste vírus, poderá nem fazer efeito, pois, como no caso das vacinas, não sabemos ainda a estrutura genética do novo vírus mutante. Ademais, acreditamos que a gripe aviária não perdurará no verão como uma epidemia por razões climáticas. Assim, os que compraram grandes estoques de Tamiflu, certamente, verão seus prazos de validade expirarem antes da entrada da "provável" pandemia. A propósito, recentemente, este medicamento foi acusado pela FDA americana de provocar problemas psiquiátricos em alguns pacientes.
Em 1918, o mundo saía da 1ª grande guerra quando ocorreu a pandemia da gripe espanhola, provavelmente oriunda também das aves. Nesta época, não havia o menor controle sanitário das autoridades e da população, devido à ignorância científica aliada à precariedade dos meios de comunicação, da grande movimentação de tropas enfraquecidas pela guerra, e ainda, das populações famintas e da falta de higiene. Tudo isto contribuiu para a disseminação da doença, e hoje, sabe-se que, em função de todas essas condições adversas, a letalidade da gripe observada na Europa parece ter sido três vezes maior do que a ocorrida, por exemplo, em São Paulo, apesar do inverno neste Estado ter sido especialmente frio naquele ano.
A gripe espanhola (gripe humana) começou na cidade de San Sebastián no inverno de 1918 e perdurou até a primavera,
desaparecendo completamente no verão. Depois, voltou
como uma segunda onda, no final do verão, com as temperaturas já caindo e, desta vez, nos países que ainda não tinham sido atingidos, inclusive,
quase todos da América do Sul.
É importante aqui ressaltar que a atual gripe ainda não é uma pandemia humana e sim aviária e com apenas alguns poucos casos em humanos, principalmente no sudeste asiático. Além disso, esta doença das aves tende sempre a desaparecer nos verões no hemisfério norte como uma
epidemia, pois, mesmo lá, a transmissão viral é dificultada pelo clima mais quente e
o organismo das aves torna-se mais resistente e protegido do vírus quando a radiação solar
é mais intensa e há mais calor.
Por tudo isso, discordamos da tese de que "uma futura pandemia de gripe humana igual a de 1918 seja inevitável para a humanidade", pois, com a chegada do verão no hemisfério norte, ganharemos praticamente mais um ano para novas pesquisas científicas. Sabe-se hoje que, embora este tempo possa parecer curto, na verdade, será um tempo precioso para os novos estudos científicos sobre os vírus, e é assim que se ganham as batalhas contra qualquer doença. A última pandemia de gripe humana aconteceu em 1968 (considerada leve) e, anteriormente, só havia ocorrido em 1957 (gravidade moderada), e em 1918 (grave). Portanto, teoricamente, poderemos ficar ainda algum tempo sem que nada ocorra; ademais, observamos que a medida que os anos têm avançado, e com isto os conhecimentos e procedimentos de como combater a doença, esta tem se tornado menos virulenta como epidemia.
Assim sendo, a cada inverno que conseguirmos passar incólumes através de uma constante vigilância sanitária, menos chances haverá de ocorrer, no futuro, uma pandemia de gripe nos moldes da "espanhola", devido justamente às novas descobertas e aos avanços científicos no que tange às vacinas, aos medicamentos, antibióticos e ao próprio conhecimento geral da doença. Por exemplo: recentemente, o governo dos EUA anunciou a assinatura de cinco contratos no valor de um bilhão de dólares para que os laboratórios desenvolvam vacinas modernas e eficientes contra a gripe humana e mais recente ainda, um estudo realizado por um grupo internacional de cientistas conseguiu relacionar os efeitos da epidemia de gripe de 1918 aos vírus H5N1 da gripe aviária. Isto é fundamental para se descobrir novas vacinas e estratégias de como combater o vírus atual, que age da mesma forma que o antigo vírus, que foi reconstruido com muito esforço em laboratório a partir dos gens extraidos dos cadáveres de algumas vítimas da antiga epidemia. Como poderemos constatar no próximo tópico deste site, versando sobre os fundamentos científicos, o sol além de ser o grande "controlador" da quantidade de microrganismos na atmosfera e que podem nos afetar, influencia também os mecanismos da transmissão aérea de vírus e bactérias entre os seres humanos e entre os animais, incluindo as aves. Poder-se-ia imaginar que o aumento da umidade de verão no hemisfério norte poderia favorecer os mecanismos da transmissão aérea viral, porém, isto não ocorre na prática, pois é amplamente compensado pelo aumento da intensidade da radiação solar e pela maior resistência do organismo das aves e dos humanos aos vírus a temperaturas mais elevadas. Por isso, as notícias sobre a gripe aviária praticamente desaparecem durante o verão no hemisfério norte, retornando no inverno.
Como comentário final e ironia: o remédio mais popular, recomendado e usado no Brasil para combater a gripe espanhola de 1918 era a canja de galinha.
|