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A maioria das pessoas no Brasil gosta muito de tomar remédios, pílulas e de uma forma indiscriminada, se automedicando. É como se o ato em si, o ritual de tomá-los já contribuísse para a cura da doença. O uso excessivo de medicamentos, principalmente na idade avançada, pode ser mais prejudicial do que benéfico e as estatísticas americanas demonstram que não são poucos os casos de intoxicação por excesso ou incompatibilidade medicamentosa, levando à morte. Aliás, medicamentos receitados e tomados em excesso, mais contribuem hoje para o óbito do que para a cura dos pacientes e os hospitais no mundo todo gastam de 15% a 20% de seus orçamentos para tratar das complicações causadas pelo mau uso dos fármacos.
Por outro lado, os microrganismos estão se tornando cada vez mais resistentes aos antibióticos devido à extraordinária
capacidade destes realizarem mutações e desenvolverem resistência aos mesmos. Bactérias aparentemente
inócuas tornam-se resistentes em ambiente hospitalar e em locais onde existem
aglomerações humanas e pouca higiene, como nas
Por exemplo: até pouco tempo atrás acreditava-se que o antibiótico denominado "vancomicina" iria controlar ou até aniquilar o Staphilococus, sempre que isso fosse necessário, entretanto, rapidamente, a bactéria produziu uma cepa resistente, e hoje em dia, esta bactéria é a maior vilã das infecções hospitalares. Obviamente que a bactéria dentro do hospital está submetida a um ambiente artificial, onde a sua ação é facilitada
pelo quadro dos pacientes, geralmente grave e com o sistema imunológico debilitado, não ocorrendo esta contaminação
tão facilmente fora do hospital, entre pessoas saudáveis, ao ar livre e à luz do sol.
A propósito, uma forma de bem combater as infecções hospitalares seria a de projetar, no futuro, principalmente nos países de clima tropical como o nosso, hospitais e maternidades muito bem iluminados pelo sol e mesmo arejados, para o efetivo combate dos germes que proliferam facilmente em suas dependências comuns, geralmente escuras, quentes e úmidas. Este seria um método verdadeiramente eficiente de combater as temíveis infecções hospitalares, e até nas salas mais especializadas dos hospitais caberiam sistemas que permitiriam a iluminação natural ou artificial em determinadas horas, desde que esta não fosse prejudicial no momento em que estivesse sendo usada. A nosso ver, teríamos a rigor que reformular totalmente os conceitos da arquitetura hospitalar tradicional para tornar realmente efetivo o incessante combate à contaminação microbiana hospitalar.
Atualmente, a situação já é tão grave que os especialistas em resistência aos antibióticos estão pedindo uma ação conjunta dos médicos para conscientizar a população sobre os malefícios da auto medicação e o uso indiscriminado dos antibióticos, enquanto que os especialistas em infecções hospitalares lutam contra bactérias cada vez mais resistentes e perigosas.
O problema, é que os antibióticos, muitas vezes, são receitados com mais freqüência do que o necessário e, outras vezes, ainda são mal prescritos, esta é a verdade. Sabe-se hoje que 50% de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou usados inadequadamente e 75% das prescrições com antibióticos são errôneas. Ademais, invariavelmente, o paciente não toma a dose completa receitada (apesar de geralmente comprar comprimidos em excesso), o que induz, também, ao aparecimento da resistência bacteriana. Precisamos dar um basta em tudo isso, atacando em várias frentes e o primeiro grande passo seria o de nos medicarmos menos com antibióticos e mais com métodos naturais, principalmente em relação aos resfriados e gripes que, normalmente, não são doenças consideradas graves. Um estudo recente sustenta que na verdade somos constituídos por um amálgama de células e bactérias atuando em simbiose e, se assim for, o organismo é totalmente dependente de sua população de micróbios. Isto tornará aos poucos ainda mais grave o uso indiscriminado dos antibióticos, pois estes atuam tanto nas bactérias patogênicas quanto nas que realizam ou ajudam as funções orgânicas e qualquer alteração na população microbiana pode ter conseqüências graves.
Infelizmente, existe em nosso país o hábito arraigado da auto medicação, muito ajudado pelas farmácias e drogarias que, em sua grande maioria visam principalmente o lucro, praticando a famosa "empurroterapia", pois estas existem na praça em quantidade muito acima da recomendada pela OMS na maioria das cidades brasileiras. Devido à nossa precária estrutura pública médico-hospitalar-farmacêutica, a população sempre teve o hábito de se automedicar; e isto é ainda muito agravado pelo fato de que vários fármacos que antes eram tomados indiscriminadamente foram depois até proibidos e retirados do mercado por serem de alguma forma prejudiciais à saúde. Ousamos afirmar que cerca de 70% das fórmulas farmacêuticas existentes nas farmácias pouco servem ou são meras repetições mais baratas de marcas consagradas e mais caras, o que só ajuda a confundir o usuário. Os genéricos atenuaram o problema, mas não resolveram e na maioria das vezes o paciente é ainda atendido somente pelo balconista da farmácia, ao contrário do que ocorre em outros países, onde a "atenção farmacêutica" é levada a sério há anos.
Como exemplo de um medicamento usado em grande quantidade e relacionado às doenças infecciosas das vias respiratórias, temos paracetamol, um analgésico utilizado para dores de cabeça e combate às gripes e resfriados que, surpreendentemente, ainda não sofreu restrições ou nenhuma advertência quanto ao seu consumo. O paracetamol, utilizado para combater a dor de cabeça tipo ressaca, se associado ao consumo do álcool, pode causar lesão hepática grave, mesmo se tomado em doses relativamente baixas. Após a ingestão de apenas 3 doses de bebida alcoólica não se deveria tomar o paracetomol e isto foi bem constatado nos EUA em 2003, onde o analgésico tornou-se a principal causa de insuficiência hepática. No Brasil é um dos mais vendidos para gripes e resfriados sem nenhuma restrição. Como exemplo deste, temos as marcas famosas: Trimedal, Tylenol, Naldecon, Dimetap, Cheracap e Cedrin.
Mesmo a velha e tão consumida aspirina também apresenta seus problemas, podendo provocar dores de estômago, gastrites e até a úlcera gástrica se tomada à vontade, sem os cuidados médicos. A aspirina pode causar também a síndrome de Reye nas crianças e jovens, que produz a destruição do fígado, se a pessoa tiver uma propensão genética, podendo, ainda, provocar hemorragias em casos de dengue ou em cirurgias, por afinar o sangue. Estudos recentes afirmam também que alguns analgésicos muito populares e vendidos sem receita médica, como o ibuprofeno, dobram o risco de ataques cardíacos para aqueles pacientes que tomam altas doses do medicamento por um longo período. Temos ainda os antiinflamatórios, que também possuem uma série de efeitos colaterais, podendo até chegar a inibir a produção das células de defesa do sistema imunológico e com isso facilitar as infecções, inclusive as respiratórias. Finalmente, temos ainda o Tamiflu, que é o antigripal considerado a panacéia para as gripes, inclusive para a temível gripe aviária e que recentemente foi denunciado pela FDA, a agência americana controladora de remédios e alimentos, como possível causador de problemas psiquiátricos. Como exemplo de outras classes de medicamentos não relacionadas a gripes e resfriados e que produzem efeitos
colaterais, temos que citar as famosas anfetaminas, que são utilizadas largamente no nosso país
para emagrecimento e que provocam vários problemas, além de causar uma dependência semelhante à da cocaína
nos usuários, mas assim mesmo, são bastante comercializadas. Os brasileiros já consomem 15% a mais de anfetaminas que os americanos, principalmente, devido
ao fato de que, aqui as pessoas só ligeiramente
acima do peso já fazem uso da droga em grande escala, a maioria por pura vaidade, apenas para manter a forma
num país de muito sol e muitas praias.
Até as vitaminas não devem ser tomadas indiscriminadamente, pois o excesso de vitamina A, por exemplo, pode vir a provocar lesões hepáticas, a vitamina D, problemas na calcificação dos ossos e a vitamina C, cálculos renais. Pesquisas recentes derrubaram a idéia corrente de que altas doses de vitaminas podem reduzir a ocorrência de doenças potencialmente fatais, como é o caso da vitamina C para combater resfriados e gripes, um dos maiores mitos da indústria farmacêutica e que vende milhões. Pelo contrario, sabe-se hoje que suplementos vitamínicos em excesso e isolados podem ser prejudiciais. As vitaminas devem ser tomadas sempre que possível na alimentação, combinadas entre si e com outras substâncias naturais que potencializem seus efeitos através de uma ação sinérgica, e não ingeridas isoladas e em excesso. Em seu livro, o Dr. Helion Póvoa tem uma frase lapidar que resume bem tudo: "uma cápsula de vitamina C, por exemplo, é apenas vitamina C. Já um suco de acerola é vitamina C mais um monte de nutrientes que atuam em sinergia com a vitamina, potencializando o seu efeito". Então, resumindo, hoje em dia está cada vez mais difundido o conceito de que, para se ter uma vida com
saúde não se deve ingerir grandes quantidades de pílulas, de remédios, mas sim, praticar uma dieta balanceada,
incluindo sempre frutas, legumes e verduras. Isto é realmente importante e deve ser praticado
por todas as pessoas saudáveis e em todas as idades.
Finalmente, o uso prolongado de antiinflamatórios, antibióticos, corticóides, ansiolíticos, anticoncepcionais
e outros fármacos, além de todos os efeitos adversos que lhes são peculiares, pode ainda aumentar a chamada
permeabilidade intestinal, favorecendo a absorção de substâncias indesejáveis pelo intestino e que
passam à corrente sanguínea, intoxicando todo o organismo.
Como se não bastasse todo este quadro recentemente dois medicamentos muito receitados foram considerados perigosos pelos próprios fabricantes: o antidepressivo Plaxil da Glaxo, relacionado à tendências suicidas e o analgésico Vioxx, da Merck, que foi considerado como um causador potencial de danos cardiovasculares, inclusive de derrames a longo prazo. A situação atual é tão grave e complexa que a Organização Mundial de Saúde (OMS) propôs que os testes clínicos para novos medicamentos em seres humanos tenham regras mais rígidas e mais claras como forma de evitar que eventuais resultados negativos sejam mantidos em segredo pelos laboratórios.
Recomenda-se hoje fortemente a ingestão de uma menor quantidade de remédios, principalmente pelas crianças e idosos, apesar da propaganda maciça em sentido contrário e evitar praticar a automedicação, procurando terapias mais naturais. Fianalmente, para encerrar o quadro, soubemos que as denúncias sobre remédios falsos no Brasil cresceram novamente sete vezes de 2005 para 2006, relembrando uma época recente de graves ocorrências e onde ninguém acabou sendo punido.
Atualmente, existe no Brasil um grande esforço por parte dos órgãos fiscalizadores para que as farmácias e drogarias tenham sempre um farmacêutico de plantão, o que, certamente, contribuirá para diminuir a automedicação e a falsificação dos medicamentos. Também a atenção direta ao consumidor será melhor dispensada, pois o farmacêutico é peça fundamental no final da longa cadeia de vendas dos fármacos, pois fica em contato direto com o público; sabe-se que 70% da população brasileira passa antes pela farmácia antes de procurar um médico. A lei existe desde 1973, mas, atualmente, somente em S. Paulo é que 90% dos estabelecimentos contam o com um farmacêutico presente. Porém, tudo isso já é praticado com sucesso em vários países, inclusive em Portugal, que poderia servir de exemplo para nós, da prática exemplar da atenção farmacêutica, resgatando finalmente para o farmacêutico e para a farmácia a sua atividade mais nobre, tradicional e profissional.
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