Antibióticos, fármacos e automedicação

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A problemática da automedicação com os antibióticos e outros fármacos.

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Inicialmente, nunca é demais lembrar que, todas as doenças causadas pelos vírus (gripes e resfriados) ou por fatores alérgicos, não devem ser tratadas com antibióticos, só quando houver complicações bacterianas tais como: pneumonias, sinusites, otites, meningites, amigdalites  ou  faringites bacterianas.

 

A razão é simples: os vírus são estruturas que não chegam a constituir  uma célula,  formadas, basicamente, de DNA ou RNA e proteínas, e os antibióticos agem, de  modo geral,  nas estruturas ou organelas   celulares  das  bactérias; então, estaremos tomando antibióticos  à  toa  para os vírus, a não ser que haja uma complicação bacteriana envolvida e,  estas sim, as bactérias,  constituem-se  em  entidades unicelulares.

 

Porém, se chegarmos a um ponto em que o tratamento com antibióticos é imprescindível, além de consultar um médico, recomenda-se que leitor leia antes o texto abaixo com atenção:

A maioria das  pessoas no Brasil  gosta muito de tomar remédios, pílulas e de uma forma indiscriminada, se automedicando. É como se o  ato em si, o ritual de tomá-los já contribuísse para a cura da doença.

O uso excessivo  de  medicamentos, principalmente  na idade avançada,  pode ser mais prejudicial do que benéfico e as estatísticas americanas demonstram que não são poucos os casos de intoxicação por excesso ou incompatibilidade medicamentosa, levando à morte. Aliás, medicamentos receitados e tomados em excesso, mais contribuem hoje  para o óbito do que para a cura dos pacientes e os hospitais no mundo todo gastam de 15% a 20% de seus orçamentos para tratar das complicações causadas pelo mau uso dos fármacos.

 

Por outro lado, os microrganismos estão se tornando cada vez mais resistentes aos antibióticos devido à  extraordinária capacidade  destes  realizarem mutações e desenvolverem  resistência aos mesmos. Bactérias aparentemente inócuas tornam-se  resistentes em ambiente hospitalar e em locais onde existem aglomerações humanas e pouca higiene, como nas prisões.

No mundo todo, a bactéria Staphilococus aureus, normalmente inofensiva, tem causado problemas de infecção hospitalar, e nas prisões russas  a bactéria da tuberculose, o Micobacterium tuberculosis,  tem encontrado um campo fértil para desenvolver formas mais resistentes.

 

Por exemplo: até pouco tempo atrás  acreditava-se que o antibiótico denominado "vancomicina" iria controlar ou até aniquilar o Staphilococus, sempre que isso fosse necessário, entretanto, rapidamente, a bactéria produziu uma cepa resistente, e hoje em dia, esta bactéria é a maior vilã das infecções hospitalares.

Obviamente que a bactéria dentro do hospital está submetida a um ambiente artificial, onde a sua ação é facilitada pelo quadro dos pacientes, geralmente grave e com o sistema imunológico debilitado, não ocorrendo esta contaminação  tão facilmente  fora do hospital, entre pessoas saudáveis, ao ar livre e à luz do sol.

 

A propósito, uma forma de bem combater as infecções hospitalares seria a de projetar, no futuro,  principalmente  nos  países de clima  tropical  como o nosso, hospitais e maternidades  muito bem iluminados pelo sol e mesmo arejados,  para o efetivo combate dos germes que proliferam facilmente em suas dependências  comuns, geralmente escuras, quentes e úmidas.

Este seria um  método verdadeiramente eficiente de combater as temíveis infecções hospitalares,  e até nas  salas  mais especializadas dos hospitais caberiam sistemas que permitiriam a iluminação natural  ou artificial   em determinadas  horas,  desde   que esta não fosse prejudicial  no momento em que estivesse sendo usada.

A nosso ver, teríamos a rigor que reformular totalmente os conceitos da arquitetura hospitalar tradicional  para tornar realmente  efetivo o incessante combate à contaminação  microbiana  hospitalar.

 

Atualmente, a situação já é  tão  grave que os especialistas em resistência aos antibióticos estão pedindo uma ação  conjunta dos médicos  para conscientizar a população   sobre  os malefícios da auto medicação  e   o   uso indiscriminado dos antibióticos, enquanto que os especialistas em infecções hospitalares lutam contra bactérias cada vez mais resistentes e perigosas.

 

O problema, é que os  antibióticos, muitas vezes, são receitados com mais freqüência do que o necessário e,  outras vezes, ainda são mal prescritos, esta é a verdade. Sabe-se  hoje que 50% de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou usados inadequadamente e 75% das prescrições com antibióticos são errôneas.  Ademais, invariavelmente, o paciente  não toma a dose completa  receitada (apesar de geralmente comprar  comprimidos em excesso), o  que induz, também,  ao aparecimento da resistência  bacteriana.

Precisamos dar um basta em tudo isso, atacando em várias frentes  e  o primeiro grande passo seria o de nos medicarmos menos com antibióticos e  mais com   métodos  naturais,   principalmente  em relação aos resfriados e gripes que, normalmente, não são doenças consideradas graves.

Um estudo recente sustenta que na verdade somos constituídos  por  um amálgama de células e bactérias atuando em simbiose e, se assim for, o organismo é totalmente dependente de sua população de micróbios. Isto tornará aos poucos ainda mais grave o uso indiscriminado dos antibióticos, pois estes atuam tanto nas bactérias patogênicas quanto nas que realizam ou ajudam as funções orgânicas  e  qualquer alteração na população microbiana pode ter conseqüências graves.

 

Infelizmente, existe em nosso país o hábito arraigado da auto medicação, muito ajudado pelas farmácias e drogarias que, em sua grande maioria  visam  principalmente   o  lucro,  praticando a famosa "empurroterapia",  pois estas   existem na   praça em quantidade muito  acima da recomendada pela OMS na maioria das cidades  brasileiras. 

Devido à nossa  precária estrutura pública médico-hospitalar-farmacêutica, a população  sempre teve  o hábito de se automedicar;   e isto  é   ainda muito agravado   pelo fato de  que  vários fármacos  que antes  eram tomados   indiscriminadamente foram  depois até proibidos  e  retirados  do  mercado por  serem  de  alguma  forma  prejudiciais  à  saúde.  

Ousamos afirmar  que  cerca de 70% das fórmulas  farmacêuticas existentes nas farmácias pouco servem ou  são meras repetições mais baratas  de marcas consagradas e  mais caras, o que só  ajuda  a confundir o usuário.

Os genéricos  atenuaram o problema, mas não  resolveram e na maioria das vezes o paciente é ainda atendido somente pelo balconista da farmácia, ao contrário do que ocorre  em outros países, onde a "atenção farmacêutica"  é levada a sério há anos.

 

Como exemplo de um medicamento usado em grande quantidade e  relacionado às doenças infecciosas das vias respiratórias, temos  paracetamol, um analgésico utilizado para dores de cabeça e combate às gripes e resfriados que, surpreendentemente, ainda não  sofreu  restrições ou nenhuma  advertência quanto ao  seu consumo.

O paracetamol, utilizado para combater a dor de cabeça tipo ressaca,   se  associado ao consumo do álcool, pode causar lesão hepática grave, mesmo se tomado em doses relativamente baixas.

Após a ingestão de apenas  3 doses de bebida alcoólica não se deveria tomar o paracetomol e isto foi bem constatado nos EUA em 2003, onde  o  analgésico tornou-se a principal causa de insuficiência hepática.   No Brasil  é um dos mais vendidos para gripes e resfriados sem nenhuma restrição.

Como exemplo deste, temos as marcas famosas: Trimedal, Tylenol, Naldecon, Dimetap, Cheracap e Cedrin.  

 

Mesmo a  velha e tão consumida  aspirina  também apresenta seus problemas,  podendo provocar dores de estômago,  gastrites e até a  úlcera gástrica  se tomada  à vontade, sem os  cuidados médicos.

A aspirina  pode causar  também  a síndrome de Reye nas crianças e jovens, que  produz  a  destruição do fígado, se a pessoa tiver uma propensão genética, podendo, ainda, provocar hemorragias em casos de dengue  ou  em  cirurgias,  por  afinar  o sangue.

Estudos recentes  afirmam  também que alguns analgésicos muito populares e vendidos sem receita médica, como o ibuprofeno, dobram o risco de ataques cardíacos para aqueles pacientes que tomam altas doses do medicamento por um longo período.  

Temos ainda os antiinflamatórios, que  também possuem uma série de efeitos colaterais, podendo até chegar a inibir a produção das células de defesa do sistema imunológico e com isso facilitar as infecções, inclusive as respiratórias.

Finalmente, temos ainda o Tamiflu, que é o antigripal considerado a panacéia para as gripes, inclusive para a temível gripe aviária e  que recentemente foi denunciado pela FDA, a agência americana controladora de remédios e alimentos, como possível causador de problemas psiquiátricos.

 

Como exemplo de outras classes de medicamentos não relacionadas a gripes e resfriados  e  que produzem efeitos colaterais, temos  que citar as   famosas anfetaminas, que são utilizadas largamente no nosso  país para emagrecimento e que provocam vários problemas, além de causar uma dependência semelhante  à  da cocaína  nos usuários, mas assim mesmo, são bastante comercializadas. 

Os brasileiros  já consomem 15% a mais de  anfetaminas que os americanos, principalmente, devido ao fato de que, aqui as pessoas só ligeiramente acima do peso  já  fazem uso da droga em grande escala, a maioria por pura vaidade, apenas para manter a forma num país de muito sol e muitas praias.

 

Até as vitaminas não devem ser tomadas indiscriminadamente, pois o excesso de vitamina A, por exemplo, pode vir a provocar lesões hepáticas, a vitamina D, problemas na calcificação dos ossos e a vitamina C, cálculos renais. Pesquisas recentes derrubaram a idéia corrente de que altas doses de vitaminas podem reduzir a  ocorrência de doenças potencialmente fatais,   como é o caso da  vitamina C  para combater  resfriados e  gripes,  um dos maiores mitos da indústria farmacêutica e que vende milhões.  Pelo contrario,  sabe-se  hoje que  suplementos vitamínicos em excesso e isolados  podem  ser   prejudiciais. 

As vitaminas devem ser tomadas sempre que possível na alimentação, combinadas entre si e com outras substâncias naturais que  potencializem  seus efeitos através de uma ação sinérgica, e não ingeridas isoladas e  em excesso.

Em seu livro, o Dr. Helion Póvoa  tem  uma frase lapidar que resume bem tudo:  "uma cápsula de vitamina C, por exemplo, é apenas vitamina C. Já um suco de acerola é vitamina C mais um monte de nutrientes que atuam em sinergia com a vitamina, potencializando o seu efeito".

Então, resumindo, hoje em dia está cada vez mais difundido o conceito  de que, para se ter uma vida com saúde  não se deve ingerir grandes quantidades de pílulas, de remédios, mas sim, praticar uma dieta balanceada, incluindo sempre frutas, legumes e verduras. Isto é realmente importante e deve ser praticado por todas as pessoas saudáveis e em todas as idades. 

 

Finalmente, o  uso prolongado de antiinflamatórios, antibióticos, corticóides, ansiolíticos,  anticoncepcionais e outros fármacos, além de todos os  efeitos  adversos  que lhes são peculiares, pode ainda aumentar a chamada  permeabilidade intestinal, favorecendo  a absorção de substâncias indesejáveis pelo intestino e que passam à corrente sanguínea,  intoxicando  todo o organismo.

 

Como se não bastasse todo este quadro recentemente dois medicamentos muito receitados foram considerados perigosos pelos próprios fabricantes: o antidepressivo Plaxil da Glaxo, relacionado  à  tendências suicidas e o analgésico Vioxx, da Merck, que foi considerado como um  causador potencial de danos cardiovasculares, inclusive  de  derrames  a  longo prazo. 

A situação atual é tão grave e complexa que a Organização Mundial de Saúde (OMS) propôs que os testes clínicos para novos medicamentos em seres humanos tenham regras mais rígidas e mais claras como forma de evitar que eventuais resultados negativos sejam mantidos em segredo pelos laboratórios.

 

Recomenda-se hoje fortemente  a ingestão   de uma  menor quantidade de   remédios, principalmente pelas crianças e idosos, apesar da propaganda maciça em sentido contrário  e  evitar praticar  a automedicação,  procurando terapias mais naturais.

Fianalmente, para encerrar o quadro, soubemos que as denúncias sobre remédios falsos no Brasil cresceram novamente sete vezes de 2005 para 2006, relembrando uma época recente de graves ocorrências e onde ninguém acabou sendo punido.

 

Atualmente, existe no Brasil  um grande  esforço por parte dos órgãos fiscalizadores   para que as farmácias e drogarias tenham sempre um farmacêutico de plantão, o que, certamente, contribuirá para diminuir  a automedicação e  a  falsificação dos medicamentos.  

Também    a  atenção   direta  ao  consumidor  será  melhor dispensada, pois  o farmacêutico  é  peça fundamental  no  final  da  longa  cadeia  de  vendas  dos fármacos, pois  fica em contato direto com o público; sabe-se que 70% da população brasileira passa antes pela farmácia antes de procurar um médico.  A  lei existe desde 1973,  mas, atualmente, somente em S. Paulo é que 90% dos estabelecimentos contam o com um farmacêutico presente. 

Porém, tudo isso   já  é praticado com sucesso em vários países,  inclusive  em Portugal,  que   poderia  servir de exemplo  para  nós,   da     prática  exemplar da atenção farmacêutica,   resgatando finalmente  para   o farmacêutico  e  para a farmácia  a   sua atividade  mais   nobre,  tradicional   e   profissional.

 

 

 

 

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